Faça busca...

sábado, outubro 11, 2025

Crónica: As redes sociais e o novo rosto do jornalismo em Angola

 Há alguns anos, o jornalismo angolano vivia num ritmo próprio. As redações ditavam o tempo da notícia: escrevia-se de manhã, imprimia-se à tarde, lia-se no dia seguinte. Era assim que a informação circulava. Mas, de repente, surgiram as redes sociais.

O Facebook, o WhatsApp, o Instagram e até o TikTok invadiram o nosso quotidiano e, sem pedir licença, transformaram-se em verdadeiras redações populares. Hoje, basta um telemóvel e uma ligação à internet para que qualquer cidadão se torne “repórter” do seu bairro.


Isso mudou tudo. O jornalista, que antes tinha a exclusividade da informação, agora corre atrás do que o cidadão já publicou. Muitas vezes, a primeira imagem de um acidente, de uma manifestação ou até de um discurso político aparece num vídeo caseiro que se espalha em segundos. A notícia nasce no telemóvel de alguém, mas cabe ao jornalista lapidá-la, confirmar os factos e dar-lhe sentido.

As redes sociais democratizaram a informação, é verdade. Mas também abriram espaço para um inimigo difícil de combater: as fake news. Entre a pressa de publicar e a ansiedade por likes, a fronteira entre o verdadeiro e o falso ficou mais frágil.

Apesar disso, vejo nas redes uma oportunidade. Muitos jornalistas angolanos já descobriram que não precisam esperar pela manchete do jornal ou pela abertura do telejornal. Com uma simples live no Facebook, conseguem falar para milhares de pessoas, em tempo real, sem intermediários. É o jornalismo a reinventar-se, com novas linguagens e novas formas de chegar ao público.

Claro, os desafios são enormes. Como manter a credibilidade num ambiente onde todos falam ao mesmo tempo? Como resistir à tentação de publicar sem verificar? Como garantir que a velocidade não engula a verdade?

O futuro do jornalismo em Angola, acredito, será híbrido. Vamos continuar a ter rádio, jornal impresso e televisão, mas ao lado deles crescerão blogs, podcasts e perfis digitais de jornalistas independentes. A diferença não estará na plataforma, mas na qualidade da informação.

No fim das contas, o que as redes sociais nos lembram é que o jornalismo nunca foi apenas sobre velocidade, mas sobre responsabilidade. E, no meio de tantos posts, likes e partilhas, continua a ser essa responsabilidade — a de contar a verdade — que distingue o jornalista do mero produtor de conteúdos.

terça-feira, janeiro 21, 2025

OPINIÃO| COBERTURA JORNALÍSTICA OU MERCADORIA? A ÉTICA NO JORNALISMO EM CHEQUE

O jornalismo, por definição, deve ser uma prática voltada para informar, esclarecer e promover o debate em prol do interesse público. No entanto, nos últimos tempos, temos testemunhado práticas que colocam em risco a credibilidade da profissão. Uma delas é a exigência de pagamentos por parte de alguns jornalistas às pessoas ou instituições que os convidam para cobrir eventos. 

Jornalista Mido dos Santos|© Imagem: arquivo.


Essa atitude é, sem dúvida, eticamente reprovável. O papel do jornalista é informar com imparcialidade e independência, sem que suas reportagens sejam influenciadas por interesses financeiros ou pessoais. Quando um jornalista cobra para cobrir um evento, rompe-se a linha tênue que separa a informação da propaganda. O conteúdo deixa de ser uma notícia e passa a ser uma mercadoria.  


Além disso, essa prática compromete a confiança do público na mídia. O jornalismo já enfrenta grandes desafios, como a disseminação de fake news e a desvalorização do trabalho profissional. Acrescentar mais um motivo para desconfiança é um erro estratégico e perigoso, que pode enfraquecer ainda mais a relação entre a imprensa e a sociedade.  


É importante lembrar que existe uma diferença clara entre jornalismo e publicidade. Se uma empresa ou instituição deseja visibilidade, deve investir em anúncios e não em "subornos disfarçados" para jornalistas. Já os custos logísticos, como transporte ou hospedagem em eventos distantes, podem ser custeados pelos organizadores, desde que isso seja feito de maneira transparente e com o devido conhecimento do veículo de comunicação.  


A prática de cobrar por cobertura também cria um terreno fértil para desigualdades. Quem não pode pagar pela presença da imprensa acaba tendo sua voz silenciada, enquanto os mais abastados compram espaço nos noticiários. Isso fere gravemente o princípio da equidade e do pluralismo, tão essenciais no jornalismo.  


É urgente que os profissionais da comunicação reflitam sobre o impacto dessas atitudes na credibilidade de nossa profissão. Não podemos permitir que o jornalismo, um pilar essencial da democracia, se transforme em mera mercadoria. O compromisso com a verdade, a independência editorial e a ética devem ser os norteadores de qualquer prática jornalística.  


Cabe a nós, jornalistas, fortalecer os princípios que sustentam nossa profissão e trabalhar para reconquistar a confiança do público. O jornalismo não é um negócio qualquer; é uma missão que exige responsabilidade, respeito e compromisso com a sociedade.


Mido dos Santos jornalista e editor principal do Portal Sem Censura.


Este artigo de opinião foi publicado no portal Sem Censura e republicado no jornal Muabuidi. Clica Aqui!


CPLP junta Procuradores-Gerais no debate sobre a proteção da criança em Cabo Verde

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), juntou no seu XXI conferência com os Procuradores-Gerais desses países para discutir a ...