Há alguns anos, o jornalismo angolano vivia num ritmo próprio. As redações ditavam o tempo da notícia: escrevia-se de manhã, imprimia-se à tarde, lia-se no dia seguinte. Era assim que a informação circulava. Mas, de repente, surgiram as redes sociais.
O Facebook, o WhatsApp, o Instagram e até o TikTok invadiram o nosso quotidiano e, sem pedir licença, transformaram-se em verdadeiras redações populares. Hoje, basta um telemóvel e uma ligação à internet para que qualquer cidadão se torne “repórter” do seu bairro.
Isso mudou tudo. O jornalista, que antes tinha a exclusividade da informação, agora corre atrás do que o cidadão já publicou. Muitas vezes, a primeira imagem de um acidente, de uma manifestação ou até de um discurso político aparece num vídeo caseiro que se espalha em segundos. A notícia nasce no telemóvel de alguém, mas cabe ao jornalista lapidá-la, confirmar os factos e dar-lhe sentido.
As redes sociais democratizaram a informação, é verdade. Mas também abriram espaço para um inimigo difícil de combater: as fake news. Entre a pressa de publicar e a ansiedade por likes, a fronteira entre o verdadeiro e o falso ficou mais frágil.
Apesar disso, vejo nas redes uma oportunidade. Muitos jornalistas angolanos já descobriram que não precisam esperar pela manchete do jornal ou pela abertura do telejornal. Com uma simples live no Facebook, conseguem falar para milhares de pessoas, em tempo real, sem intermediários. É o jornalismo a reinventar-se, com novas linguagens e novas formas de chegar ao público.
Claro, os desafios são enormes. Como manter a credibilidade num ambiente onde todos falam ao mesmo tempo? Como resistir à tentação de publicar sem verificar? Como garantir que a velocidade não engula a verdade?
O futuro do jornalismo em Angola, acredito, será híbrido. Vamos continuar a ter rádio, jornal impresso e televisão, mas ao lado deles crescerão blogs, podcasts e perfis digitais de jornalistas independentes. A diferença não estará na plataforma, mas na qualidade da informação.
No fim das contas, o que as redes sociais nos lembram é que o jornalismo nunca foi apenas sobre velocidade, mas sobre responsabilidade. E, no meio de tantos posts, likes e partilhas, continua a ser essa responsabilidade — a de contar a verdade — que distingue o jornalista do mero produtor de conteúdos.
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